quarta-feira, 23 de março de 2011

Amor é poesia

Amor é poesia


Amor é o grito
que chega calado
Frêmito que farfalha
no verde da relva
Fogo que suspira
dentro do peito
Na boca da noite
é sol que pula
as dobras do céu
e escancara as portas
cerradas do dia
Debruça-se na janela
esmiúça a alma
e despeja poesia


Valentina Diadory
23/03/2011
21:30 h

domingo, 20 de março de 2011

Não me esqueças

Não me esqueças


A lágrima rega
o chão dos meus olhos
Faz uma poça d’água
passa o tempo
o sol quente seca
e você não chega
Espera que fertiliza
faz florescer em meu olhar
cachos de miosótis
pequeninos e azuis


Valentina Diadory
20/03/2011
21:20 h

Poesia muda

Poesia muda


Todas as poesias
não ditas a você ontem
antes de ontem
e em outros dias
estão mofando mudas
dentro da minha garganta
Na ponta da língua
um braço do amor deságua
No vão das pedras
emendado às reticências
minha boca sorve
o gosto azul de sangue
suado de tinta fresca
que enverniza as palavras
E a ressaca lambe
os tantos versos escritos
e não bebidos


Valentina Diadory
20/03/2011
11:00 h

sábado, 19 de março de 2011

Árida

Árida


Ainda é cedo
e o dia todo molhado
não esparramou a poeira
da boca seca


...À tarde estia
um árido deserto 
com os muitos rastros
de gemidos e ais
deixados nas esquinas


Antes que o dia acabe
apetece ao sal da carne
rasgar as minúcias
nervuradas da pele
e queimar o ardor do lume


Tempo pouco
que arrasta a sede muita
Não sacia a fome
e o beija-flor só carece
beber da flor


Valentina Diadory
19/03/2011
21:00 h

quinta-feira, 17 de março de 2011

Voyuer

Voyuer 

 Mil olhos enxergam
os versos livres
guardados no âmago
das minhas vísceras

No bolso das horas
passa o tempo
corre o vento
Espelho transparente
voyeur de mim
num casulo
de janela aberta
Céu de dia
onde as palavras livres
ávidas de vida
me pedem um risco
uma linha

Idos tempos
Outros
...Aqueles atrás dos muros
Poesia exilada
num regime de fome
e sem alforria
Qual uma flor 

nascida de pedra 
sem perfume
aos poucos se desfarelando
arranhando a garganta
Como doía...

Valentina Diadory
17/03/2011
21:30 h

quarta-feira, 16 de março de 2011

Cata-vento

Cata-vento


Nas cordas do tempo
tudo é silêncio
faz pouco vento


A fumaça
sobe alguns degraus
Se esvai
sem chegar ao céu


Uma poça d’água
enlameada dorme
sozinha na calçada


No olhar despido
se move
um traço longínquo


...Um cata-vento
e o galo garboso
no telhado 
rasgado de ripas
cochila de dia


Valentina Diadory
16/03/2011
20:50 h

segunda-feira, 14 de março de 2011

Desfolho

Desfolho


Na beira da estrada
o vento empurra
as folhas sem rumo


...Longe dali
da janela entreaberta
os umbrais
opacos do olhar
inexpressivos tremulam


As pálpebras
cerradas se abrem


O bruxuleio
frouxo da lamparina
turva o meio da noite
desdobra as sombras
e ofusca o desfolho
solitário amarelecido
do outono orvalhado
trancado do lado de fora


Valentina Diadory
14/03/2011
20:48 h

domingo, 13 de março de 2011

Canto de saudade

Canto de saudade


Meu amor não é mais
nota que arde nos dedos
Já não respira
no vão quente da alma
É um canto dormido
de saudade


Valentina Diadory
13/03/2011
19:00 h

Versos de amor

Versos de amor


Ergo os olhos
apuro os ouvidos
escuto o tempo
apanho o batom
Meço as palavras
conto as letras
acanhada desenho-as


...Uns cem versos
de amor por amor
suspiram no espelho


Valentina Diadory
13/03/2011
18:50 h

Açoite



Açoite


O sal dos olhos escorre
retém os gemidos
Sem pressa
dobram-se os orgasmos
como um açoite
ao pêndulo do tempo


Valentina Diadory
13/03/2011
18:30 h

Rosa

Rosa


Ela já foi um botão
Uma rosa formosa
que se abriu na sombra
solitária da janela
Cheia de palavras
matizava o céu de anil


Valentina Diadory
13/03/2011
18:25 h

sexta-feira, 11 de março de 2011

Em vão...

Em vão...


Meu amor por você
num fio de voz
saculeja o tempo
balouça ao vento
e tece uma fala
no vazio
do teu silêncio


Tudo em vão...
Você ensurdeceu
Emudeceu
Esqueceu...


Meu amor por você
esmoreceu...
Perece fértil
dentro do últero fecundo
do meu coração


Valentina Diadory
11/03/2011
21:00

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um novo dia

Um novo dia


Nos fundos
do jardim dos sonhos
cessa a chuva
e os entremeios do sol
despertam a macieza
perfumada das flores


As borboletas
inquietas adejam e o pó fino
das asas de mil cores
adornam o vento


A menina acorda
com os cachos amassados
a face corada
e os olhos rasos d’água
Sonolenta boceja a manhã
pisa os poros fartos
e úmidos da terra
Esfrega os olhos embaçados
apanha os sonhos
mau dormidos na corda
dobra e guarda na gaveta


...Atrás da porta
o coração suspira alagado
e a menina cresce
da noite para o dia


Meio sem jeito olha de lado
sorri e colhe as pétalas
do novo dia


Valentina Diadory
10/03/2011
20:45 h

terça-feira, 8 de março de 2011

Um poema de sal e mar

Um poema de sal e mar


Corpos suados
Insaciáveis
entregues ao lume
dos desejos
Lábios ardentes
tecendo beijos de sol
...O gozo
pleno se derrama
junto com as ondas
rendadas de espumas
Na areia fica escrito
um poema de sal
incrustado nos cristais
cerúleos do mar


Valentina Diadory
08/03/2011
21:00 h

segunda-feira, 7 de março de 2011

Voejar

Voejar


Uma aragem quente
ondula o silêncio
da tarde
Com dedos leves
o vento voeja
uma sementeira
prenhe de palavras
Chove
Quando amanhece
os versos nascem
de mãos dadas
com o sol 
Abundantes enchem
o cerúleo dia com poesia


Valentina Diadory
07/03/2011
21:05 h

Inquilino

Inquilino


Tu consertas o pêndulo 
lento do tempo
Fias a gota do dia
Teces o caminho
mais claro da noite
Destelhas o teto
e a flor do meu corpo 
habita-me
...Como quem não tem
para onde ir


Valentina Diadory
07/03/2011
20:49 h

domingo, 6 de março de 2011

Mosto

Mosto

A saliva arde
apura a seiva
O céu da boca
em brasa
ofega o mosto
bebe do beijo

Valentina Diadory
06/03/2011
21:20 h

sábado, 5 de março de 2011

Pudica

Pudica


Olhar casto
Um candeeiro de candura
aceso na tez de veludo


Seios redondos
Duas pétalas intumescidas
auréolas rosadas
sombreiam a alvura
do entremeio de renda
na pele dourada de trigo


Pernas cruzadas
Joelhos macios
Carícias
desprendem segredos
...Um mar de estio
Um botão do sol
ardendo em solfejos


Valentina Diadory
05/03/2011
21:05 h

Ode ao silêncio

Ode ao silêncio


Ouço tuas mãos
compondo na fímbria
do silêncio
Ouço-as
fiando a macieza
com que tu
debruas meu corpo
eriça pêlos
desprende poros


Valentina Diadory
05/03/2011
20:24 h

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mulher

Mulher


Na curva do sorriso
um céu matizado
de volúpias
No olhar afoito
um mar aberto
enfebrecido de segredos


Valentina Diadory
03/03/2011
21:50 h

quarta-feira, 2 de março de 2011

Outonece

Outonece


As folhas uma a uma
caem pelo chão
Desbotadas se movem
com o vento
Uma lasca
fria de silêncio sorve
os gomos do dia


Valentina Diadory
02/03/2011
21:40 h

terça-feira, 1 de março de 2011

Bordadeira

Bordadeira


...Passa horas
no quarto de costura
bulindo no cesto de letras...
Em silêncio
alinhava sílabas
costura versos
borda palavras


Valentina Diadory
01/03/2011
21:20 h