domingo, 27 de fevereiro de 2011

Contra o tempo

Contra o tempo


Inquieta corro os olhos
pelas paredes
Afobada gasto passos
derramo a água do pote
tropeço
levanto...


Colho flores
guardo no embornal
amarro
Colo cacos
faço um mosaico
Cato os espinhos
jogo fora...


Sobrevivo
sempre de olho
no relógio
roendo a casca
grossa do tempo


...Tenho vontade
de avançar as horas
Pressa de saber
como será o amanhã
Pressa de viver
pressa de ser mais feliz...


E o amanhã demora...
Parece que nunca vai chegar...


Valentina Diadory
27/02/2011
13:50 h

Insaciável

Insaciável


Dedos andejos
nas sombras
da noite pouca
sobe e desce degraus
Dedilha versos
saliva
fia a fome
tece
debrua sóis
ateia fogo
gozo


Valentina Diadory
26/02/2011
10:10 h

Tanto

Tanto


...Na esquina dos olhos
tanto cisco
Tanto mar
rouco de pranto


Valentina Diadory
25/02/2011
18:20 h

Eterno amor

Eterno amor


Tu me dizes
Na sua vida serei
eterno como o mar
o sol o luar as estrelas o céu...
O mundo todo lá fora
Serei seu eterno amor
...
Miro seus olhos e digo
Na sua vida serei
os minutos poucos
e as horas fartas
Do anoitecer ao romper do dia
serei poesia


Rafael Augusto – Valentina Diadory
25/02/2011
14:30 h

Solfejos

Solfejos


Lume arde
Queima a seda
a pele
...E o tato
onde se cala
ofega solfejos


Valentina Diadory
20/02/2011
09:10 h

Jejum

Jejum


Ainda levo um dia
nessa sequidão
Jejuando no silêncio
escutando meu avesso
urdindo o tecido
espesso das palavras


Valentina Diadory
19/02/2011
15:35 h

Uma história de poesia

Uma história de poesia


O menino me contou
que quando anoitece
o vento sopra devagar
empurra as nuvens
alvas do céu
e a réstia loura de sol
que estava escondida
se espicha e de longe
aparece um pouquinho
As ondas crespas do mar
se acalmam e levam
o barco para a praia
Lambem a areia e o pescador
vai para casa descansar
Até parece ser de dia


...O sono chega
o menino boceja
esfrega os olhinhos miúdos
e se debruça
dentro da poesia...


Valentina Diadory
18/02/2011
19:20 h

Fazer amor

Fazer amor


Explodir fragrâncias
Na porosidade da pele
exalar aromas...
O amor verdadeiro
impregnando o ar
com a seiva extraída
da essência da alma


Rafael Augusto – Valentina Diadory
18/02/2011
20:15

Pelo avesso

Pelo avesso


Esperou tanto
Lá pelas tantas
já pelo avesso
teve um dedo de prosa
com o silêncio
Mirou-se no espelho
do pó de arroz
Engoliu os soluços
passou batom
ajeitou os cabelos
bateu a poeira
do vestido
sacudiu o olhar
e saiu pisando
nas pedras soltas
que ainda ruíam
por dentro


Valentina Diadory
17/02/2011
21:25 h

Careço

Careço


Descalça
desço as escadas
de mim...
Tudo tão escuro
Às cegas tateio o chão
forrado de páginas
amassadas
Careço do verbo
Careço de palavras pingando
na ponta do lápis
para bordar na alvura
do linho fiado


Valentina Diadory
16/02/2011
21:40 h

Sombra

Sombra


Abro a porta do dia
Rego o vaso
de amor-perfeito
sobre a mesa
Sento-me na cadeira
cansada do alpendre
e leio-te


Escuta minhas mãos
fitando as páginas
e folheando o avesso
das linhas


Sou sol
Sombra do seu tempo
Do instante derradeiro
ao minuto seguinte
sei teus passos de cor


Valentina Diadory
15/02/2011
21:52

Seiva

Seiva


A cama arde
Descoso-me dos pudores
Recebo-te
Tu te hospedas em mim


...Céu
Sol
Sal
Mar


...A seiva se derrama
irriga


...Cirzo teu corpo no meu
Extasio-me


Valentina Diadory
14/02/2011
23:00

Quem sou?

Quem sou?


Sou o silêncio do lume
se espraiando
na ausência da linguagem


O toque das acácias
perfumando a vadiagem
dos dias


O sono
A noite de sonho turvado
e o sal do mar
que unta o corpo
Os anos que passam
e a criança que pede colo


A voz
O grito das palavras
que dobra e rasga
a mudez da sua interrogativa


Valentina Diadory
14/02/2011
22:50 h

Riscos

Riscos


Na parede caiada
o pêndulo renitente
tomba os minutos
e passa as horas
De soslaio
a palavra míngua
na porosidade das mãos
Da lonjura
o verso carece
das linhas deitadas
que risca
o olhar do poeta


Valentina Diadory
13/02/2011
21:10 h

Verão

Verão


Apalpo o crepitar
das folhas
secas de outono
e côo réstias de sol
na palheta


Colo na fundura do céu


Dura a vida toda
como se fosse
um dia de verão


Valentina Diadory
14/04/10
16:32 h

(A)mar

(A)mar


Ouço a essência
do mar
a marulhar
poemas na areia
...Um respiro
das palavras
arqueja no corpo
... (A)mar


Valentina Diadory
12/02/2011
21:20 h

Girassóis do poeta

Girassóis do poeta


Há um fio
rouco de voz
no pranto que corre
pela sua face
Suas mãos tecem
as palavras
e um campo
de sóis
brilha diáfano
em seu olhar


Valentina Diadory
12/02/2011
20:20 h

Tempo

Tempo


Toco o fio das palavras
Conto os dias nos dedos
Teço em versos
os minutos e as horas


...Arremato nosso amor
no poema
Guardo dentro da alma
e aperto os olhos
para que nada de nós
se extravie


Valentina Diadory
11/02/2011
21:25 h

Um poema pronto

Um poema pronto


Abro a seiva
dos olhos
umedeço a língua
e sangro


Valentina Diadory
26/08/10
13:25 h

Tu

Tu


Você me chegou
luar
numa noite escura
Sol quente
num dia de inverno
Abraço que abriga
da chuva


...E as palavras
não sossegam mais
Nuas em pêlo
correm a pé
Feito borboletas
voam pelo céu
da minha boca
Na ponta da língua
ardem
Rasgam minha alma
e tingem minhas mãos
com poesia


...Tu és
a cantiga de amor
que meu coração canta
todo dia


Valentina Diadory
09/02/2011
22:15 h

Beijo

Beijo


Tua boca
serve-se do pólen
Desmancha o fio
do batom
Amarrota a rosa
borra pétalas
Orvalha meus lábios
draga minha saliva
Afunda no rio
Cio


Valentina Diadory
10/02/2011
22:30 h

Mouca

Mouca


Amanheci
com as mãos caladas
a boca seca
um nó na garganta
e os lábios insossos
Não ouço o farfalhar
dos passos largos
das palavras
beliscando o meu silêncio
Acordei
sem a poesia do dia
Acordei sem você


Valentina Diadory
26/06/10
6:38 h

Transbordando

Trans(bordando)

Abro a janela
e ouço o sol
da tarde
se apartar

A chuva miúda
de longe
logo vai chegar

Logo ali
na casa do poeta
o silêncio beberica
no cântaro
cheio de palavras

E o cantar da poesia
trans(borda) versos
na macieza do papel

Valentina Diadory
25/03/10
7:15 h